terça-feira, 2 de agosto de 2011

O Inevitável - O encontro (parte 2)





- Alô, me desculpe, mas eu estava na cozinha...alô, tem alguém na linha?
- Humm...oi, sou eu. E....tudo bem por aí?
- Bem...eh, digo, sim...está tudo bem. E com você?
- Olha, para ser bem sincero contigo, mais ou menos.
- Nossa, eu imaginei que não estivesse. Mas...será que poderíamos conversar uma outra hora? É que agora eu estou um pouco ocupada, na verdade, muito ocupada.
- Olha, tudo bem, continuou ele, eu não quero te atrapalhar. Um outro dia nós conversamos, quem sabe, né? Até mais.
- Não, espere. Eu...ela dizia, mas já era tarde. Ele já havia desligado o telefone.  
- Eu estava fazendo um jantar...(ela completou baixando a voz até parecer um sussurro).

Passou a noite, mais uma vez. Nada acontecia. O fato de ela não querer falar com ele não o perturbava, isso já era esperado. Até que, no meio do seu sono, o celular dele toca. Era uma mensagem, mas ele não a ouviu.
Amanhece um dia nublado e sua rotina recomeça. Quando volta do exercício, decide olhar o celular. Desligado, bateria fraca, provavelmente. Então, coloca-o para recarregar enquanto toma banho e se arruma para ir trabalhar. 
Ele está atrasado, por isso se penteia o mais rápido possível, pega as chaves de casa, a carteira e sai. No meio do caminho, ele decide ligar o celular, mas percebe que o esqueceu recarregando em casa. Reflete por um momento e pensa:  já estou atrasado mesmo, não fará diferença perder mais alguns minutos.
Em casa, abre a porta, pega o telefone e liga enquanto desce as escadas. Uma mensagem não lida. Ele a abre e lê: “Desculpa não ter falado com você direito ontem, mas eu fiquei muito surpresa com o seu contato. Se você ainda quiser conversar, me encontre 12h na praça. =D”. 

Ele não disfarçar sua ansiedade diante daquele convite inesperado. Todos no trabalho reparavam que ele estava inquieto naquele dia. Onze horas, marcou o seu relógio. Nunca uma manhã foi tão longa na sua vida. Ele vai ao banheiro, lava o rosto, observa-se por um instante, balbucia algumas palavras para sua imagem, como quem treina algum discurso. Aproxima-se do espelho, olha-se nos olhos, levanta uma das mãos, aponta o dedo indicador para a imagem do homem que está bem na sua frente e diz: “você consegue!”.

Meio-dia, sua hora de almoço, finalmente. Ele sai do prédio apressadamente. 

- A praça não é tão longe, ele pensa. 

Caminha por alguns minutos e chega ao local. Ela estava sentada num banco de madeira lendo uma revista de moda, não o tinha visto ainda. Ele ajeita suas roupas, passa a mão nos cabelos, endireita sua postura e caminha em direção ao banco. 

Ela o vê, finalmente, guarda a revista na bolsa, espera ele se aproximar um pouco mais e levanta-se. Ele para bem na frente dela, e a encara por alguns instantes. Ela está de braços cruzados e o fita bem nos olhos. Começa a chuviscar. Ela olha para cima e abre um sorriso.

Ele toma a iniciativa e começa a falar: “Olha, eu só queria dizer que...”, mas ele acaba sendo interrompido pela surpresa de abraço apertado dela em seu peito. 

Ele não sabe bem se são lágrimas ou pequenas gotas de chuva que escorrem pelo rosto dela. 
- Eu te amo, ela diz. 

Ele a abraça, alisa-lhe os cabelos e diz: “me perdoe. Eu errei quando...”. Sem mais palavras. Ela o beijou em meio às lágrimas, ou chuva, não fez diferença.

Então, ele se lembrou da caneca de café que tomou pensando, sem sucesso, que faria o efeito desse beijo. 
- Fracasso total aquele café. Não tem comparação, ele diz. 

 Ela não entendeu nada, mas ele a abraçou com mais amor do que nunca, e os dois se abraçavam fortemente  enquanto a chuva caia e molhava-lhes não apenas o corpo, mas a alma também.

A água que descia sobre eles parecia lavar suas mágoas, levando todas elas embora.