terça-feira, 2 de agosto de 2011

O inevitável - O início (parte 1)





Numa noite dessas, das mais comuns, nada acontecia para que pudesse diferenciá-la das outras passadas. Ele levanta da cama. Tentou dormir, mas seus pensamentos não permitiam que ele sossegasse. Anda de um cômodo para o outro, abre a geladeira, enche um copo de água e fica olhando por um instante. Bebeu da água e desejou que fosse a boca quente dela em vez do vidro gelado em seus lábios. Gelada, a água desceu por dentro dele e, sem saber explicar como, parecia que ela ia direto para o seu coração.
Ainda não amanheceu. O pouco que conseguiu dormir foi o suficiente para lhe dar forças e sair da cama. A preguiça travou uma luta, mas ele logo come alguma coisa, põe uma roupa leve, um tênis e sai para correr. Volta cansado e desgastado, mas não da atividade. A corrida não conseguiu livrá-lo dela, seu cansaço era o de tentar tirá-la da sua cabeça. Tentativa frustrada. Ainda é cedo, o sol se mostra tímido no horizonte. O exercício lhe deu fome. Ele prepara uma caneca de café bem quente e bebe calmamente. Pensou que o café poderia aquecer seu o coração assim como a água o gelou, equivocou-se. Não funcionou. Ele se arruma para ir tabalhar.
Seus colegas de trabalho olhavam para ele como se estivesse mal arrumado ou sujo. Algo estava errado, pensou ele. Foi ao banheiro, olhou-se no espelho e então percebeu que não havia nada de errado com suas roupas. Tudo estava em seu devido lugar, os sapatos pretos brilhando, sua blusa bela e sua gravata com um nó impecável. Na verdade, eram seus pensamentos que estavam fora de ordem, e lá estava ela, até no trabalho. Perseguia-o em todos os momentos.
Ele chega em casa, senta no sofá, liga a TV e assiste ao canal, qualquer canal. Ele nem sabe o que está passando. A TV acaba sendo a telespectadora dele. No seu pensamento? Bem, não é difícil adivinhar qual era a programação que passava. Ao fim de muitos minutos fora do ar, ele retorna a si. Levanta e toma um banho demorado. O barulho do chuveiro lhe lembrava a chuva, o dia em que eles se conheceram. Sai do banheiro, desliga a TV, pega o telefone, senta-se no chão da porta que divide a sala da cozinha e encosta-se. Um pé ficou na cozinha e o outro na sala. Ele olha por alguns segundos para o telefone. Depois de um dia inteiro tentando livrar-se dela, não seria agora que ele iria conseguir, então, é melhor eu ligar logo, pensou ele.
Discou o número dela. O telefone chamou demoradamente até que alguém atendesse, a voz de uma mulher do outro lado da linha diz: alô ... [Leia a continuação.]